terça-feira, 1 de setembro de 2015

Uma visita rara

UMA VISITA RARA

Maria do Céu Coutinho Louzã
(São Paulo - SP)


 Naturalmente quando me resolvo a escrever algo, logo penso e digo para mim mesma: não comece a escrever lembrando tempos  idos. Não seja saudosista! Mas desta vez um acontecimento tão simples me fez pensar e lembrar como a vida muda e com ela muitas coisas acontecem ou aconteceram. São muitas as surpresas do dia a dia.
Vivo numa região bem próxima ao Parque Ibirapuera, há mais de 60 anos. Quando ainda adolescente, meus pais compraram uma casa num bairro novo, entre a Avenida Santo Amaro, ou  melhor  Estrada Velha de Santo Amaro e a Avenida República do Líbano. Estávamos muito perto do parque Ibirapuera, que na verdade mal existia ainda.
“Pau podre ou árvore apodrecida”  é o significado da palavra Ibirapuera na língua indígena. 
       O que existia numa parte do terreno, era o Parque Manequinho Lopes, onde eram cultivadas - e ainda são - plantas e árvores para jardins públicos. Nele havia a casa do administrador que ali  morava, com a família. Havia também um cemitério para cães e gatos. Parecia que ele estava longe do centro, mas a cidade crescia a passos largos, e o que a muitos nossos amigos parecia, que havíamos ido morar longe, logo estávamos dentro da cidade perto de  tudo que proporcionaria conforto e facilidades para a vida diária. 
Foi nesse bairro – Vila Nova Conceição - que me casei e fomos morar numa rua próxima à dos meus  pais, numa casa construída por nós e onde vivemos por trinta e três anos.
Em todo esse tempo assisti a grandes mudanças. A estrada de Santo Amaro, duplicada passou a ser Avenida e vieram com o progresso, supermercados, colégios, grande construções, comércios sofisticados e variados, shoppings  como acontece em toda a cidade de São Paulo.
Em 25 de janeiro de 1954, no Quarto Centenário da Cidade de São Paulo, houve grandes festejos e o parque Ibirapuera foi inaugurado, ainda que não estivessem prontas todas as obras ali iniciadas. E realmente a sua inauguração somente se deu alguns meses depois. Os projetos eram de Oscar Niemeyer.
Um linda chuva - iluminada por holofotes -  de pequenos triângulos de papel alumínio com o nome de metalúrgica famosa, enfeitou o céu da região, na noite do 25 desse janeiro tão festivo. O Parque foi engrandecido com vários pavilhões, um Planetário, o Pavilhão Japonês, a Oca - espaço para exposições e recentemente  a construção de um último prédio que faltava no projeto de Niemeyer:  auditório junto à Oca, inaugurado em 2005, com palco para apresentações ao ar livre. Muitas outras obras interessantes foram erguidas próximo ao parque: uma delas é o monumento e obelisco em homenagem aos heróis da revolução de 1932.
O progresso se estabeleceu na região e mais tarde esse mesmo progresso foi derrubando  muitas casas para se construir lindos prédio de apartamentos.
Foi nesse momento que tivemos que mudar ou melhor fomos obrigados a vender nossa casa, na iminência de ficar ao lado de um prédio de mais de trinta andares.
  E  assim mudamos de casa, para outra, em bairro bem próximo, dando apenas a volta ao parque. Era importante para nós que continuássemos por perto devido à facilidade de acesso aos nossos locais de trabalho.
Adaptar a casa e recomeçar vida por perto foi tranquilo. O parque continuava ao nosso dispor, comércio todo era fácil devido à nossa convivência com o espaço já conhecido... 
Os filhos casaram, vieram os netos que muito aproveitaram a casa e essa proximidade do parque
Mas o que me levou a escrever sobre tudo isto?
A proximidade do parque propicia, que pelas manhãs, bandos de maritacas, barulhentas, visitem o nosso coqueiro e logo depois se dispersem por entre as árvores da rua. Onde irão? Fico sempre me perguntando. Certamente para o arvoredo do parque.  Ao entardecer vemos garças,  voando em formação. Para onde?  Não sei... Para outros jardins? Mas é interessante vê-las no azul do céu.
       Porém como na nossa cidade acontece sempre algo inusitado, há pouco tempo, pela manhã, ao abrir a janela do meu quarto vejo o nosso guarda da rua e mais outras pessoas olhando para o ipê do meu jardim. Logo se puseram a me chamar a atenção para que eu visse um sagui ali empoleirado. Um macaquinho no nosso jardim! Como seria possível?            Tratei de logo buscar meu celular e tirar fotos. Isto é muito lógico, hoje somos viciados em celular e eu não poderia perder a oportunidade de fixar tal visita!
Mas porque seria que ele ali estava? De cor cinzenta, medindo pouco mais do que um palmo, e com uma coroa de pelos à volta do focinho, não deixava de ser engraçado vê-lo ali. Olhava para um lado e para o outro, talvez assustado, sem saber para onde ir.   
Ele parecia tão espantado quanto a plateia que o observava. Depois de um tempo de indecisão, aos poucos ele se foi deslocando pelo nosso ipê, dali para o muro, para o fio de luz da calçada, para uma árvore vizinha e sumiu, assim como devia ter aparecido.
Teria vindo do parque?
O que mais me divertiu: a reação muito diferente de cada um dos filhos, ao verem a foto que mandei pelo celular: 
- Mas que gracinha!
- Que bonitinho! 
        - Que maçada. Você chamou o IBAMA? É proibido ter esses animais em casa...  
E foi que assim terminou a visita instantânea de um sagui em nosso jardim.

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