terça-feira, 1 de setembro de 2015

Andanças

ANDANÇAS

Mércia Lúcia Chade
(São Paulo - SP)


       Andei e ando muito sozinha na rua. Tudo eu observo e tudo eu ouço. Nada me passa despercebido. Com todos os sentidos presentes em todo o meu corpo em todo o tempo e em todos os momentos.
      Ao logo dos anos percebi que o número de pessoas aumentou, mas os sons de vozes diminuíram e os de veículos aumentaram. Os velhos que andam têm dificuldades; andam bem devagar. Os jovens bem depressa, com celular na mão e fones de ouvidos, nada olham, esbarram com sua desatenção com suas mochilas e com as mãos. Não existem desculpas apenas falta de educação ou desatenção, não sei. Muitas vezes me assusto com conversas em tons bem altos, parecendo muita gente, discussão, mas não é; apenas monólogos no celular, Ipod, Ipad ou sei lá mais o que se pode ou se pede.
       Os trajes também mudaram, mas são iguais; os cheiros são parecidos, são os perfumes famosos naqueles momentos, quando todo mundo usa e abusa do seu uso.
       Nas calçadas só sujeira, desníveis, buracos de cimento, podemos cair a qualquer momento. As lojas cheias de gente demente. Poucas conversas aos pares, em grupos, apenas pressa correria e mais e mais pressa.
        Amo o sol, o ar, o luar, as estrelas, que antigamente não via porque não tinha tempo de andar, apenas para trabalhar.
      Agora tenho mais tempo, ainda posso andar, mas não posso olhar para cima, para apreciar o sol, as nuvens, o céu e o luar, pois um carro, uma bicicleta ou uma pessoa pode me pegar e me machucar.
       Andando ouvi outro dia, dois adolescentes num grande papo. Que legal pensei, isto é inédito, então prestei muita atenção, andei mais devagar para a conversa acompanhar. Que decepção, falavam, sobre aplicativos. Um deles dizia para o outro, que tinha baixado todos os aplicativos que existiam no seu celular e o outro falava sobre os tipos de Windows. Fiquei triste, pois não esperava este tipo de conversa. Andei mais e mais devagar para nada mais ouvir.
     Continuei andando e refletindo na vida de hoje, com celulares, aplicativos, programas, joguinhos nos celulares, facebook e por aí vai.
     O que me adiantou trabalhar tanto por muitos anos, para acumular bens materiais, sem tempo para andar, para olhar à minha volta a natureza a despertar? A natureza aí está e aqui estará, mas as pessoas não a sentem nem a observam, por falta de tempo, de vontade, de idade?
     As facilidades de hoje me fascinam, assim como a natureza sempre me fascinou com sua beleza e sua existência sempre presente em minha vida em todos os momentos, despertando em mim inúmeros sentimentos.
     Quanta perda de tempo no meu passado e no presente das pessoas que vejo nas minhas andanças.
       Será que são boas as mudanças?

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